Pesquisadores inventam curativo com ação bactericida na Bahia
Em meio a era dos aparelhos “inteligentes”, como smartphones, smart TV, academias smart, entre outros, um pesquisador da Bahia resolveu direcionar a tecnologia aplicada à química para criar curativos inteligentes. A ideia surgiu nos laboratórios da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), nas unidades Juazeiro e Petrolina, sob a coordenação do pesquisador Helinando Oliveira, que utilizou um sistema de fibras para adicionar uma substância chamada ácido úsnico. A novidade é que o tecido aplicado sobre a pele libera aos poucos o composto químico, inibindo o crescimento e a propagação de bactérias ao mesmo tempo em que protege o ferimento.
De acordo com o coordenador da pesquisa, o objetivo é simples. “Imagine que você tem um ferimento e em vez de você aplicar uma grande quantidade de medicamento em cima dele, você vai colocar uma quantidade que vai ser liberada aos poucos pelo tecido. Temos também um diferencial inovador que é direcionar esta substância que não é tão comumente aplicada em ferimentos bacterianos. Ou seja, a “cura inteligente” é formada por uma reposição medicinal em um processo diferente e eficaz”, destacou.
Helinando diz que muitos curativos costumam adicionar uma grande quantidade de um fármaco e aplicar um tecido em cima, enquanto o projeto busca tratar as lesões cutâneas de maneira diferente. “Como um curativo inteligente, o ácido úsnico que foi adicionado nas fibras será liberado aos poucos e assim inibe com mais eficácia a proliferação de bactérias, em vez de o usuário precisar ficar trocando o tecido e reaplicando o medicamento com mais frequência”, explicou. Além disso, o pesquisador comenta sobre a inspiração para criar o projeto. “A ideia surgiu quando dois grupos de trabalho se reuniram, um que já atuava com a linha de antibacterianos e o outro com a produção de fibras. Observamos que materiais em alta concentração são tóxicos, então seria preciso aplicá-lo em menor quantidade e a forma de conseguir isso é inserindo o ácido úsnico dentro de uma matriz polimérica, como se você estivesse ensacando-o, protegendo para ser liberado aos poucos”.
O projeto foi desenvolvido em 2014, durante a pós-graduação do estudante Evando Araújo, atual professor do colegiado das Ciências dos Materiais, mas foi só recentemente, que o produto ganhou sua patente e se tornou título de propriedade, que é concedido às soluções inovadoras que possuam aplicação industrial para combater determinados problemas, pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. “Ter sido finalmente patenteado abre espaço para outros projetos similares darem continuidade. Atualmente estamos trabalhando com um sal do ácido úsnico para melhorar o desempenho e diminuir a toxicidade do produto. Assim, ele ficará ainda mais eficiente e mais barato do que o curativo antecessor”, disse Helinando.
Testes em laboratório já comprovaram a eficácia do produto. A próxima etapa é testá-lo em humanos. “Estamos trabalhando para criar um curativo que possa ajudar toda a população, inclusive diabéticos. Enquanto o curativo está protegendo o ferimento ele também está liberando um fármaco controlado para inibir crescimento e contaminação da bactéria que poderia gerar infecções e piorar o quadro do indivíduo”, concluiu. O trabalho contou com apoio de Mateus da Costa e Carolina Machado, professor e ex-aluna da Univasf, respectivamente, além de Eugênia Pereira e Nicácio da Silva, ambos pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).